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Racismo e Separação: Luísa Sonza. Mascarando o Google e as redes sociais

  • Categoria do post:Análise

Durante a última semana nos vimos inundados com informações sobre a separação de Luísa Sonza e Chico Moedas, após a cantora ir até o programa Mais Você e, às vésperas do horário do almoço, ler uma carta em que anunciava a sua separação do seu então namorado e investidor de criptomoedas, denunciando a traição ocorrida no relacionamento entre ambos.

Ao mesmo tempo, circulavam notícias do acordo extra-judicial entre Sonza e a advogada Isabel Macedo que colocou fim à um processo movido por Isabel contra Luísa por racismo. Tal processo já há alguns meses manchava a reputação forte de Luísa Sonza com grupos progressistas.

Entre os dois acontecimentos, um deles claramente ganhou as manchetes, enquanto o outro foi esquecido. Mas por que? O que aconteceu?

Mascarando as buscas

Não me acabe fazer juízo de valor sobre qual foi o limite entre a necessidade de Luísa Sonza em expor seus sentimentos e a necessidade do Marketing da cantora em varrer para baixo dos tapetes um fato que prejudica a imagem da cantora, porém é válido analisar o que ocorreu na realidade.

Ao revelar a traição sofrida por Luísa Sonza ao vivo durante um dos programas de televisão de maior público do Brasil e unificar isso com uma tática de guerrilha em redes sociais, a produção da cantora conseguiu fazer com que esse se tornasse o principal tema vínculado à cantora.

No Google Trends, serviço de análise de buscas oferecida pela Alphabet, dona do Google, o termo “Luísa Sonza Chico” é o que apresenta o maior índice de buscas pela cantora. Ele é seguido de diversos termos relacionados à essa separação, enquanto que termos vinculados racismo nem mesmo aparecem no índice, tendo dados completamente irrelevantes quando comparados ao interesse geral em Luísa Sonza, não sendo nem mesmo possível analisar o quão menores eles são.

Sonza se valeu nisso de uma técnica de mascaramento do Google.

Atualmente o Google se tornou a principal fonte de informação, em conjunto das redes sociais, para entendermos a realidade. Se algo não aparece no Google, podemos analisá-lo como inexistente. Ao buscar pelo nome de Luísa Sonza durante a última terça-feira, seria bem possível, caso não houvessem notícias maiores, que as notícias e publicações relacionadas ao processo por racismo contra a cantora estivessem em evidência. O nome da cantora é algo muito buscado em ferramentas de pesquisa, seja por pessoas em busca de informações sobre a cantora ou em busca de uma música ou clipe da mesma. Seria prejudicial à sua imagem que esse tema aparecesse.

Mas não foi isso o que ocorreu. Ao juntar a carta, sua separação, o programa de maior audiência da televisão no horário e uma ação com diversas páginas de fofoca (que naturalmente iriam abordar essa notícia), Luíza transformou o processo em meras entrelinhas no ambiente online.

Uma pesquisa feita pelo site Hubspot aponta que 75% das pessoas nunca passam da primeira página do Google, enquanto que um estudo feito pela Zero Limit aponta que 67,7% das pessoas clicam apenas nos 5 primeiros links que aparecem no buscador. Com isso, qualquer nota de rodapé, diferente até mesmo dos tempos de jornais impressos, não é nem mesmo visualizada pelas pessoas.

Logicamente, em uma estratégia de gerenciamento de crise, fazer com que o motivo da crise não seja nem mesmo visualizado por 75% da população mundial é um grande objetivo e a equipe de Luíza Sonza cumpriu ele muito bem.

Mascarando as Redes Sociais

Já nas redes sociais, por conta dos algoritmos, o desafio é ainda mais fácil. As informações que chegam às pessoas já são anteriormente filtradas antes mesmo de chegar aos usuários.

Com uma boa articulação com páginas de fofocas é possível garantir que o público base da cantora nunca tenha acesso ao conteúdo do processo.

Como as redes são divididas em agrupamentos sociais, as bolhas, até mesmo as denúncias estarão trancadas da população em geral. Pessoas que já fazem o debate antirracista irão até mesmo receber mais informações envolvendo o processo e suas denúncias chegarão à outras pessoas que fazem um debate antiracista nas redes, mas qualquer pessoa que não faça esse debate, dificilmente receberá esse conteúdo, ficando presos ao que o algoritmo aponta para elas.

É capaz até mesmo que, caso você não seja uma pessoa ativa no debate antiracista e/ou não se importe com Luíza Sonza, nem mesmo receba informações sobre nenhum dos casos e tenha ficado no escuro sobre esse tema.

Mascarando a realidade E Defendendo a realidade

A tática usada por Luísa Sonza, mesmo que sem querer, não é nova. Ela vem sendo utilizada há anos, inclusive nos meios políticos.

A palavra mais importante aqui é “Engajamento”. Se algo pode gerar mais engajamento, ele pode ser utilizado para mascarar algo que afete com maior força a imagem de alguém. Isso pode ser utilizado, inclusive, como redução de danos, relacionando com uma informação negativa que gere maior engajamento, mas que cause um menor dano à imagem do indivíduo ou organização.

A partir disso, é possível moldar a realidade, controlando as informações que circulam e o conhecimento das pessoas sobre determinados assuntos.

Tal tática pode, inclusive, ser utilizada de maneira positiva e benéfica. Quando bem estruturada, ela pode ser utilizada no combate à notícias falsas, mesclando uma estratégia que mescle a notícia real de modo a gerar maior engajamento.

O Google e as redes sociais são campos de batalha, como qualquer outro, e, em um momento em que batalhamos até mesmo pela noção do que é a realidade, devemos lembrar que uma tática é apenas uma tática e pode ser utilizada para qualquer finalidade, seja ela de proteger uma imagem ou para destruir uma imagem.

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